Plácido

Na história do Círio de Nazaré o mito se confunde com a história. Muita coisa do que se diz sobre a origem dessa devoção, tanto em Portugal como no Brasil, não pode ser comprovada com documentos históricos. Muitas narrativas foram sendo criadas ao longo do tempo sobre essa devoção e hoje é difícil fazer uma diferença entre o que é verdadeiro e o que foi inventado. Assim como em Nazaré, Portugal, em Belém do Pará existe uma lenda que explica a origem da devoção na cidade. Reza a tradição que, em 1700, morava na cidade de Belém um homem chamado Plácido. Certo dia, Plácido teria encontrado no meio da mata uma pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré, às margens de um igarapé, na chamada estrada do Utinga ou do Maranhão (atual Avenida Nazaré). Ele levou a imagem para sua casa e, no outro dia, percebeu que a imagem havia desaparecido. Voltou, então, ao lugar onde havia encontrado a imagem e viu que ela estava lá. Plácido tentou por várias vezes levar a imagem da santa para sua casa, mas ela sempre voltava para o lugar onde tinha sido encontrada.

Segundo o mito, o governador da época soube da história da santa “fujona” e determinou que a imagem fosse levada para a capela do Palácio do Governo. Lá, ela ficou guardada por soldados, que ficaram vigiando para que ninguém entrasse ou saísse do palácio, mas a imagem da santa sempre retornava para o lugar do achado. Plácido decidiu construir uma palhoça no lugar do achado para abrigar a imagem da santa. Logo a imagem ganhou fama de milagreira e muitos moradores começaram a se dirigir até a palhoça da santa fazendo pedidos ou agradecendo algum milagre que ela tivesse feito. É possível que esse mito tenha sido criado muito tempo depois que a devoção à santa surgiu em Belém, servindo para explicar aos devotos o início da devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Belém do Pará.

Em artigo publicado em 1877 o historiador Arthur Vianna afirma que quem encontrou a imagem da santa foi “um mulato velho chamado Plácido”. Em outro artigo, de 1898, o mesmo autor se referia a “um homem de cor parda... cuja origem e sobrenome são ignorados”. Pelo que afirma Arthur Vianna se constata que, em fins do século XIX, não existia a lenda do achado da imagem da santa, nem de suas fugas para o local do achado. Diz o autor, se referindo à imagem, que: “como Plácido a adquiriu é ignorado”. Assim, pode-se afirmar que as lendas que explicam a origem da devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Belém do Pará surgiram ao longo do século XX. De todo modo, o chamado Carro do Caboclo Plácido, que reproduz a cena do achado da imagem e é conduzido no Círio de Nazaré reforça o mito todos os anos. /p>