História do Círio de Nazaré de Belém do Pará

As primeiras romarias em homenagem a Nossa Senhora de Nazaré surgiram em Portugal no século XVII. Os devotos organizavam procissões até ao santuário de Nazaré carregando velas de ceras, que eram chamadas de “círios”, nome que passou a ser utilizado para se referir às procissões. Por volta de 1700, um morador de Belém chamado Plácido teria encontrado na floresta uma imagem de Nazaré, que logo passou a atrair devotos devido sua fama de milagreira. O primeiro Círio de Nazaré de Belém do Pará ocorreu em 1793, organizado por um português, o governador Francisco de Souza Coutinho. Na ocasião, fez-se a condução (Trasladação) da imagem da santa, considerada milagreira, de sua igreja até o Palácio do Governo e, no dia seguinte, ocorreu a Grande Procissão, que recebe o nome de Círio, sendo a imagem de Nazaré conduzida de volta até sua igreja, que evoluiu de uma pequena capela de palha para a atual Basílica Santuário de Nazaré. A partir de 1882, a Trasladação passou a ser feita do Colégio Gentil Bittencourt até a Catedral da Sé.

A imagem que teria sido encontrada por Plácido fica guardada na igreja de Nazaré e é conhecida como a “Imagem original”. No início do século XX, ela foi substituída na procissão por outra, pertencente ao Colégio Gentil Bittencourt que, por sua vez, foi substituída, em 1967, pela chamada “Imagem Peregrina”. Na procissão, a imagem é vestida com um Manto bordado com símbolos religiosos, sendo transportada em uma Berlinda, espécie de cocho antigo ao qual se atrela uma Corda, que serve para “puxar” a Berlinda. Com o passar dos anos, a corda passou a ser um dos lugares mais disputados pelos devotos para o pagamento de promessas, apesar do grande esforço físico que ela exige.

Desde o princípio chama a atenção o aspecto popular da devoção. Cartazes com a imagem da santa são confeccionados e distribuídos entre os devotos, funcionando como uma peça publicitária. Pessoas de muitas partes da Amazônia e, hoje, do Brasil, acompanham a Grande Procissão, muitas vezes como forma de pagar por alguma graça atribuída à intervenção de Nossa Senhora de Nazaré. São os chamados Romeiros e Promesseiros. Geralmente os promesseiros carregam objetos de cera, representando partes do corpo humano que teriam sido curadas ou objetos que representam uma graça alcançada. São os chamados “ex-votos”, muitos dos quais são depositados em Carros específicos para essa finalidade, alguns em formato de Barcos, que acompanham as procissões. Existem, também, Alegorias dando colorido especial à procissão, como a reprodução de milagres atribuídos a Nossa Senhora de Nazaré.

Ao longo do trajeto de cerca de 5 quilômetros, a multidão de devotos segue cantando Hinos religiosos e dando vivas à Nossa Senhora de Nazaré. A avenida Nazaré é enfeitada com Arcos e recebe Ornamentação especial em prédios públicos e residências. Ao longo da procissão, pode-se ver o colorido dos Brinquedos de Miriti, palmeira típica da região, reproduzindo animais, pássaros, casais de dançarinos, entre outras coisas.

Com o passar dos anos, alguns elementos foram desaparecendo do Círio, como o carro dos fogos, que anunciava a chegada da Berlinda, enquanto outros foram surgindo. A partir de 1997, a imagem da santa começou a ser transportada até o município de Ananindeua, na chamada Romaria Rodoviária. Outras romarias foram sendo incorporadas na programação oficial da Festa de Nazaré: Romaria Fluvial, Moto Romaria, Romaria das Crianças, Romaria da Juventude, Ciclo Romaria e Romaria dos Corredores, todas acompanhadas por milhares de devotos. Com o aumento considerável de pessoas na Grande Procissão do Círio, os organizadores do evento (Diretoria de Nazaré) criaram um espaço de acolhimento para atender os romeiros e promesseiros que chegam de diferentes pontos, muitos deles depois de dias de caminhada até chegar a Igreja de Nazaré. Esse ponto de acolhimento é a chamada Casa de Plácido.

Terminada a Grande Procissão os devotos se dirigem às suas casas para o chamado Almoço do Círio, reunindo familiares e amigos em torno da mesa farta e com comidas típicas da região amazônica. No espaço chamado Arraial de Nazaré os devotos encontram diversão, comidas típicas, brinquedos eletrônicos, artesanato e shows musicais. Entre os espaços de diversão e arte na programação da festa de Nazaré, também podemos citar a Festa da Chiquita, realizada na noite anterior à Grande Procissão e que é organizada por grupos homossexuais de Belém. Essa festa não é reconhecida pela igreja local como parte da programação oficial do Círio de Nazaré; o Auto do Círio, projeto de extensão da Universidade Federal do Pará e que é realizado na sexta-feira anterior à Grande Procissão; e o Arrastão do Círio, cortejo de cultura popular que ocorre no sábado anterior à Grande Procissão.

Atualmente, mais de 2 milhões de pessoas participam do Círio de Nazaré, reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e como patrimônio cultural da humanidade pela União das Nações Unidas Para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). De fato, o Círio de Nazaré é um dos principais elementos da identidade cultural amazônica, ao mesmo tempo em que revela várias dimensões da relação entre a história do Brasil e a de Portugal. De todo modo, apesar de sua origem portuguesa, a Festa de Nazaré ganhou em terras amazônicas uma vitalidade própria.