Almoço do Círio

Uma das tradições mais bonitas em Belém é o almoço do Círio. No século XIX, já se associava a comida com o Círio. No jornal Gazeta Official, em 27 de setembro de 1859, o Hotel Estrella do Norte oferecia todas as qualidades de refrescos e comidas para o almoço do Círio. Não seria o único. Nas casas particulares essa importante tradição também existia. Muitos paraenses criavam patos em seus quintais, para o almoço do Círio, feito uma vez por ano, no segundo domingo de outubro, dia da procissão do Círio de Nossa Senhora de Nazaré. Na década de 1920, o pato era presença obrigatória nas mesas do Círio, inclusive nos restaurantes e outros locais de venda de comida.

Ainda hoje, no almoço do Círio, muitas podem ser as iguarias, mas quase sempre tem o Pato no Tucupi. Este, não se come de qualquer jeito. Mergulhado no tucupi fervido com o jambu, o pato se come com arroz branco e a farinha. O tucupi é o sumo da mandioca descascada, ralada e espremida, espécie de molho. Também se come o frango, o chester ou o peru com o tucupi; além das carnes de peixe ou de porco, até mesmo a carne vermelha. O jambu é uma planta regional com caule macio ou maleável, uma herbácea, que após cozimento, quando consumida dá a sensação de adormecimento da língua, sendo muito saboroso com o tucupi. A farinha, consumida desde antes da colonização europeia pelos indígenas, é feita a partir da mandioca.

A Maniçoba é outro prato tradicionalmente servido no almoço do Círio, feita com a maniva fervida durante vários dias e acrescida, dentre outros ingredientes, de paio, de charque, de calabresa e linguiça. Nos dias que antecedem o almoço do Círio, feita em grande quantidade em enormes panelas, dias inteiros fervendo, a maniçoba perfuma a cidade. Sendo servida com arroz e farinha. Sempre farinha, que nunca pode faltar na mesa do paraense. A sobremesa é outro momento importante. Cremes de cupuaçu ou bacuri, sorvetes regionais e o pudim de leite. Para além de outros doces. Havendo ainda os sucos de bacuri, graviola e cupuaçu, entre outros.

O almoço do Círio está presente nas memórias e histórias dos paraenses. Mobiliza a família em torno da mesa, tanto os que ficaram em casa, como aqueles que foram para a procissão do Círio. Mas, mesmo fora de casa, outros desfrutam do almoço do círio, consumindo seus pratos típicos nos restaurantes e barracas de rua da cidade de Belém.