A Berlinda

Otermo Berlinda provém do alemão Berline, que é uma carruagem leve de quatro rodas. Foi concebida por volta de 1670 para Frederico Guilherme I de Brandemburgo (1620-1688), Duque da Prússia. A carruagem ficou com o nome da capital de Brandemburgo, hoje da Alemanha, Berlim. Já no século XVIII, esse transporte caiu no gosto português, cujo Museu dos Coches, em Lisboa, conserva uma berlinda processional setecentista, uma berlinda da Casa Real de Bragança e duas pessoais da rainha D. Maria I. No Pará, o termo já era amplamente conhecido e utilizado na primeira metade do século XIX, tanto para o traslado de imagens de santos como de autoridades e pessoas abastadas.

Guarda a memória que teria sido o bispo D. Antônio de Macedo Costa (1830-1891) quem teria incorporado uma berlinda processional no Círio de 1882, porém existem muitos registros de imprensa da presença da Berlinda já na década de 1850, o que se leva a concluir que de fato a berlinda passou a ser utilizada na procissão ao mesmo tempo que a corda que puxa o carro que transporta a berlinda com a imagem desde 1855. A grande mudança ocorreu ainda antes do calçamento das vias da Cidade, hoje bairro da Cidade Velha, e do atual bairro da Campina, quando as chuvas e atoleiros dificultavam o andamento da procissão.

Em sua origem, no primeiro Círio de 1793, a imagem era transportada nas mãos ou no colo do governador ou do capelão do palácio, dentro de um palanquim ou liteira fechada, conduzida por quatro ou seis homens que se revezam durante o cortejo. Na década de 1860, os batalhões de infantaria da Guarda Nacional, sob as ordens do Comandante das Armas da Província, formavam a brigada que acompanhava e guardava a Berlinda com a Imagem da Virgem de Nazaré. Em 1883, o pintor francês Pierre Vignal (1855-1825) registrou em gravura sobre madeira intitulada Procession du Cirio de Nazareth à Belém do Pará, a Berlinda tendo à frente um barco com os anjos conduzidos pelos marinheiros da Escola dos Aprendizes Marinheiros do Arsenal.

Já em 1926, D. João Irineu Joffily (1878-1950) substituiu a antiga berlinda por um andor, também chamado charola, ornamentado com flores e fitas coloridas, que permaneceu na procissão até o Círio de 1930. Muitos protestos em relação à essa medida fizeram com que a Berlinda voltasse ao Círio e o andor ficasse restrito apenas na procissão do recírio, que marca a despedida da festividade. Houve tentativas de modernizar a Berlinda no final da década de 1950, sendo incluída uma "nova", em metal, no Círio de 1963, amplamente rejeitada pela população. Em vista disso, em 1964, o artista João Pinto Martins (1911-1991) foi convidado a desenhar e confeccionar a atual berlinda recuperando o desenho “barroco” das procissões mais antigas.

Em 2012, a berlinda ganhou nova cobertura em folhas de ouro, incluindo um moderno sistema de iluminação em fibra ótica, com luz branca no interior, enfatizando a simbologia da pureza de Nossa Senhora, e amarela na parte exterior, realçando os contornos e relevos estruturais e artísticos da obra.