De Nazaré para Sé: a Trasladação

AA procissão da trasladação era mais conhecida até o século XIX como procissão de véspera. O cortejo acontece desde o primeiro Círio, em 1793, e marcava o traslado da imagem da Virgem de Nazaré da antiga ermida existente na Estrada de Nazaré até a Capela do Palácio dos Governadores.

O termo “trasladação” evoca o antigo costume cristão do transporte do “corpo santo” até sua morada definitiva, como ocorre no calendário com a trasladação de inúmeros santos católicos. No Pará Colonial e Imperial era bastante conhecida a procissão da Trasladação do Senhor do Passos durante a Semana Santa, de onde provém o nome utilizado para designar a procissão da véspera do Círio, com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré.

A procissão sempre ocorreu no período da tarde, alcançando o destino final, já durante a noite, por isso o costume das velas, archotes e tocheiros para iluminar o préstito. Já no primeiro círio, o então governador e capitão general do Estado do Grão-Pará e Maranhão, D. Francisco de Souza Coutinho, entre 1790 e 1803, convocava o povo, por meio de circular, para que acompanhasse a imagem milagrosa na procissão de véspera.

Devido a esse percurso, há um significado simbólico na procissão, que recorda a lenda do “achado da imagem” pelo caboclo Plácido e o retorno ao local originário, simbolizado pelo trajeto do dia seguinte, durante o círio.

Ainda no século XIX, o governador Abel Alencastro Pereira da Graça (1840-1897), em 1871, promoveu o acompanhamento da trasladação da imagem da Virgem de Nazaré até a Capela do Palácio, com guarda e honras militares realizadas pelo batalhão de Infantaria da Guarda Nacional, com vestimenta de gala. Esse costume se manteria até o início da República em 1891.

Em 1882, durante o bispado de D. Macedo Costa, em comum acordo com Presidente da Província Justino Ferreira Carneiro (1834-1896), ficou decidido que a trasladação mudaria o roteiro final da capela do Palácio para Sé de Belém, de acordo com o ideário da reforma católica e o controle eclesiástico do ritual, tradição que permanece até hoje.

Desde o século XIX, a noite da trasladação também demarca o primeiro dia de arraial, com o conhecido universo “profano” da solenidade, com brinquedos, vendas de comidas, jogos de azar e muitas atrações e festividades que foram durante as décadas seguintes incorporando-se aos divertimentos da Quadra Nazarena.