As imagens: original e a peregrina

Aimagem “original”, fonte de devoção, que dá origem a grande manifestação católica do Círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém, também é chamada de imagem “autêntica” ou a “imagem do achado”, pois segundo a narrativa mítica do evento, a imagem encontrada por Plácido de Souza, no igarapé do Murucutu, no ano de 1700, teria insistido em voltar várias vezes ao seu “nicho original”, cada vez que seu descobridor tentava levá-la para a sua casa. Trata-se de uma pequena escultura da Virgem de Nazaré, feita em estilo barroco, confeccionada em madeira que possui 28 cm de altura, que apresenta traços de uma senhora portuguesa, e carrega no braço esquerdo o Menino Jesus despido com um globo nas mãos, também possui como característica os cabelos da Santa caídos sobre o seu ombro direito. Aos pés da Virgem, há a cabeça alada de um anjo, que é o símbolo iconográfico da glória celestial.

Na Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, edificada em sua honra, no local onde foi achada, ela passa a maior parte do ano protegida por uma redoma de cristal no alto do altar-mor, denominado de “o Glória”, entre anjos, nuvens e um esplendor de raios. Desde 1992, a imagem original só é retirada de lá duas vezes ao ano, em maio no aniversário da Basílica Santuário, e a outra, em uma cerimônia conhecida como a “Descida do Glória”, que ocorre na véspera da procissão do Círio, considerado pelos fiéis como um dos momentos de maior emoção desta festividade religiosa.

Após a descida do Glória, durante toda a quinzena da Festa, a imagem fica exposta numa vitrine de vidro blindado instalado no presbitério, a pouco mais de um metro e meio de distância dos devotos, guardada por voluntários da Guarda de Nossa Senhora de Nazaré. Já foi reformada três vezes, a primeira entre 1773 e 1774. A segunda restauração aconteceu em 1846, quando a imagem foi novamente enviada para Portugal. Em 1953, durante a realização do VI Congresso Eucarístico Nacional em Belém a imagem recebeu o manto e a Coroa Pontifícia, por determinação do Papa Pio XII. Foi a primeira vez que a imagem saiu da Basílica, desde que foi trasladada da antiga matriz para o interior do templo em 1920. Depois saiu apenas em 1980, quando da visita de João Paulo II a Belém, e em 1993, no Círio 200. Como forma de preservar a imagem de Plácido, foi utilizada no Círio entre os anos de 1920 até 1968, uma imagem da Virgem de Nazaré, feita em gesso que pertencia às irmãs do Colégio Gentil, mas em 1968, atendendo pedidos dos fieis, que alegavam ser esta bastante diferente da imagem original, o então Páraco de Nazaré, o padre Luciano Brambilla, resolveu encomendar uma réplica da imagem que fosse utilizada nas procissões e cerimônias oficiais.

A tarefa, ficou a cargo do escultor italiano Giacomo Mussner, a quem foram enviadas diversas fotografias da imagem original, mas com um pedido importante, Maria teria que ter o rosto das mulheres amazônicas e o Menino Jesus a aparência de uma criança indígena. Contudo, ao que tudo indica, o escultor teria se enganado, remetendo primeiramente uma imagem que difere da imagem “original”. Por esse motivo, foi feita uma segunda imagem, que é a que temos hoje. As cores e detalhes da pintura são praticamente as mesmas, a principal diferença está no burel (manto que cobre o menino), que na imagem original possui detalhes em prata e na peregrina em ouro, passando a ser utilizada a partir do Círio de 1969, sendo que esta também já passou por um processo de restauração no ano de 2002, por técnicos do Instituto Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Além de cumprir o roteiro de doze procissões, como parte do calendário oficial desta Festividade, a imagem peregrina também realiza um amplo leque de visitas, que ocorrem no período que antecede o Círio, percorrendo por diversos locais e comunidades, em Belém e em outros municípios do Estado do Pará. Segundo a Igreja, o principal objetivo destas visitas, é levar a fé e as bênçãos da Virgem, especialmente para aqueles que não podem, por alguma razão, estar presente na Festividade do Círio em Belém.

Há mais de uma década, a Imagem Peregrina vem ultrapassando as fronteiras geográficas paraenses, e visitado paróquias e comunidades católicas em outras cidades brasileiras. Na tradicional Missa do Mandato, que abre oficialmente o Círio, celebrada anualmente no fim de agosto pelo Arcebispo de Belém, milhares de réplicas da imagem peregrina são consagradas. Assim, a partir dessa solenidade, começam as peregrinações com as imagens de Nossa Senhora de Nazaré nos lares paraenses, com o objetivo de preparar espiritualmente os devotos para mais um “Novo Círio” que se anuncia.